Diante do desastre em função das fortes chuvas ocorridas entre os dias 31 de março a 2 de abril de 2022, o Observatório Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS/ Fiocruz) expressa tristeza e manifesta solidariedade à população de Paraty, Ubatuba, Angra dos Reis e Mangaratiba.
Lamentamos a perda de vidas de famílias inteiras soterradas por deslizamento de terra, como aconteceu no bairro de Monsuaba e na Praia de Itaguaçu (Ilha Grande), em Angra dos Reis, onde uma família e a praia inteira desapareceram em meio ao deslizamento. Assim como na comunidade caiçara de Ponta Negra, em Paraty, onde sete casas foram soterradas e sete pessoas da mesma família vieram a falecer. Em toda a região, diversas comunidades foram atingidas por deslizamento de terras e sofreram com alagamentos e enchentes devido ao fluxo dos rios, que subiram muito, deixando muitas casas com estruturas comprometidas.
Perante aos desafios que se impuseram ao território, sobretudo para as comunidades caiçaras, quilombolas e indígenas da região, estamos atuando junto ao Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), autoridades, instituições, voluntárias e voluntários para apoiar as ações realizadas pelos municípios e estados do Rio de Janeiro e São Paulo em prol da diminuição dos danos ocorridos.
Por meio da Campanha “Cuidar é Resistir”, que já acontece na região desde o ano de 2020 com o intuito de fortalecer as comunidades tradicionais em meio a crise sanitária e econômica acentuada neste período de pandemia; estamos atuando nos territórios atingidos com arrecadação e distribuição de mantimentos, produtos de limpeza e higiene, colchões, cobertores, água potável e quaisquer itens necessários às comunidades, além dos mutirões de recuperação de trilhas, casas e espaços prejudicados pelas chuvas.
Reiteramos nosso entendimento que o cenário dramático que estamos presenciando com as famílias das comunidades tradicionais de nosso território é fruto da ausência de políticas públicas para moradia, derivam de um modo de vida que explora e extrai os recursos naturais e humanos do território sem pensar as consequências, contribuindo com as mudanças climáticas e nos alertando para o futuro que queremos.
A situação atual evidencia a importância de se construir planos de contingência comunitários contra riscos de epidemias e desastres para que, no futuro, os impactos sejam reduzidos. E nos mostra a importância dos movimentos sociais, da base, da comunidade e do pensamento e articulação política que nasce dela.
O Observatório, a Fiocruz e o FCT se colocam à disposição para contribuir e pensar ações estruturais e estruturantes de enfrentamento às mudanças climáticas. Debater o que fazemos no sentido de superar o modo de produção e consumo vigentes.
Além do Plano de Contingência Comunitário, ações preventivas envolvem orientações sobre uso e ocupação do solo, movimento de terra, desmatamento, proteção das margens de rios e dragagem de rios que mudam de curso em função dos assoreamentos, cuidados com a drenagem das águas em terrenos em declive etc.
É passada a hora de cobrar severamente políticas habitacionais populares, cobrar políticas para soberania alimentar, políticas que respeitem a vida. Morar é um direito. Viver é um direito e precisamos cobrar políticas públicas que nos garantam o acesso aos nossos direitos.
Pela vida!
Pelo bem-viver!
Pelos Territórios Tradicionais!
Fotos: - Comunicação Popular OTSS e FCT - Eduardo Napoli
Fundo Estadual de combate a pobreza fechou 2021 com 5 bilhões de reais!!! O que falta para esse recurso ser utilizado nas bases sociais?