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OTSS define estratégias para segundo semestre de 2019

Atualizado: 18 de dez. de 2019

Incubação de empreendimentos solidários, caracterização de territórios tradicionais e monitoramento territorializado da Agenda 2030 estão entre focos de ação do OTSS para o segundo semestre

Entrevista: Edmundo Gallo fala sobre o planejamento estratégico do OTSS


Pesquisador Titular da Fiocruz e Pesquisador Sênior do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, Edmundo Gallo é também um dos coordenadores-gerais do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS). Nesta entrevista, ele destaca as prioridades traçadas pelo planejamento do OTSS para o segundo semestre e fala sobre os dez anos de parceria entre a Fiocruz e o Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT).


“Junto com a incubadora, temos outros três focos estratégicos: a ampliação da nossa cooperação internacional, a realização do Projeto Povos e o monitoramento territorializado da Agenda 2030 da ONU na Bocaina”, adianta. O planejamento, que reuniu toda a equipe do OTSS, foi realizado entre os dias 07 e 09 de agosto na sede do Observatório, em Paraty (RJ).

O OTSS se define como um espaço tecnopolítico de geração de conhecimento crítico, a partir do diálogo entre saber tradicional e científico, para o desenvolvimento de estratégias que promovam sustentabilidade, saúde e direitos para o bem viver das comunidades tradicionais em seus territórios. Qual a relevância desta missão no momento atual?
O grande diferencial do OTSS é poder conjugar diferentes formas de produção do conhecimento a processos de transformação e inovação social que conseguem combinar os olhares e saberes do movimento social, a partir do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), com a academia e a ciência, a partir da Fiocruz. E nossa pequena história, nesses dez anos de parceria, mostra o acerto em definir esta missão porque soubemos promover juntos ações territorializadas capazes de produzir vida em contraponto ao processo geral de escalada do fascismo, da intolerância e da perseguição aos povos e comunidades tradicionais. Isso exige de nós, cada vez mais, resultados concretos capazes de demonstrar que nossa ação é positiva para o desenvolvimento social, econômico e de direitos no território. Não é só fazer o que a gente precisa, mas também demonstrar que essa ação de fato contribui para a melhoria concreta da vida das pessoas.

Uma das novidades é que o planejamento do OTSS passa a ser ‘microterritorial’. O que isso significa e quais são os desafios dessa decisão desde o ponto de vista da gestão dos processos do observatório nos territórios tradicionais onde atua?
De um ano para cá, começamos a trabalhar com uma escala territorial que a gente não trabalhava, do ponto de vista da gestão e governança, que é a ideia de microterritório. Tratam-se de espaços definidos por uma série de núcleos de sentido que trazem significados materiais e simbólicos que sempre ocorreram nesses territórios, que têm a ver com as práticas históricas das comunidades que os habitam e que constituem uma identidade cultural muito própria desse espaço vivido. Embora essa abordagem não seja em si uma novidade, é uma novidade fazer isso do lugar onde fazemos, com a participação das comunidades.
E a proposta da gestão microterritorializada vem justamente com o objetivo de fazer com que as nossas ações sejam realizadas de maneira integrada. É o elemento de governança que nos permite integrar todas as ações do OTSS, sejam elas ações meio, sejam elas ações finalísticas, entendendo-se que o território é vivo e está em constante transformação. Para nós, é a governança e a gestão a partir do território que serão capazes de construir uma nova racionalidade capaz de se contrapor, aqui, a esse modo de desenvolvimento hegemônico.

Uma das prioridades definidas para este segundo semestre é a consolidação da incubadora do OTSS. Qual é a visão de futuro do observatório em relação ao fortalecimento dos empreendimentos solidários que já estão em curso na Bocaina?
Um dos nossos objetivos é avançar para um sistema de economia solidária no território da Bocaina. Isso exige empreendedorismo, formação dos processos de renda, trocas, mais valor de uso, monetarização dos processos e avanço nas moedas locais. O que queremos é fazer essa transição tecnológica desde um modo de produção hegemônico do capital para um modo de produção mais cooperativo, que parta de uma base forte das práticas tradicionais deste território associadas a outras experiências de economia solidária no Brasil e no mundo. Nossa incubadora, sendo uma prioridade, significa então uma estratégia não apenas para promover equidade, autonomia e sustentabilidade, mas também as bases desse próprio sistema solidário. Esse é o motivo de colocarmos a incubadora em nosso foco estratégico.

Outra prioridade definida pelo planejamento será a avaliação da implementação da Agenda 2030 da ONU na Bocaina desde o ponto de vista dos povos e comunidades tradicionais. Como funcionará na prática e em que medida isso contribui para a cooperação internacional em favor dos povos e comunidades tradicionais?
Junto com a incubadora, temos outros três focos estratégicos: a ampliação da nossa cooperação internacional, a realização do Projeto Povos e o monitoramento territorializado da Agenda 2030 da ONU na Bocaina. O monitoramento da Agenda 2030 e o Projeto Povos têm um diálogo intrínseco porque são estratégias de monitoramento e avaliação cujos resultados finais nos darão um quadro e uma análise de como é o território hoje e de como ele estará em 2030. Essas ferramentas são importantes porque são elas que vão dizer se a gente conseguiu reduzir as iniquidades, ampliar a autonomia das comunidades e melhorar os indicadores sociais e de sustentabilidade no território. Além de ser um processo de formação e empoderamento comunitário, trata-se também de um espaço de produção de dados e informações que vão ser indicadores daquilo que conseguimos fazer e também daquilo que não conseguimos impactar.
Esses elementos todos são insumos para apresentar nossa experiência no âmbito internacional e trazer visibilidade aos povos e comunidades tradicionais do nosso território. Ao mesmo tempo, nos permitirá criar parcerias que ampliem nossas atividades aqui. Duas parcerias estratégicas já estabelecidas são a Universidade Cooperativa com foco nos saberes tradicionais e o Fórum Afro Ibero Americano, que estamos construindo para fortalecer alianças entre diferentes instituições de pesquisa e povos tradicionais do mundo.

Teremos também o projeto Povos, maior iniciativa de cartografia social já realizada na Serra da Bocaina. Ele começará pelos Microterritórios ‘Norte de Ubatuba’, ‘Caparapitanga’ e ‘Cajaíba’. Por quê?
A nossa estratégia de ação a partir dos microterritórios levou em consideração um conjunto de elementos, entre eles a capacidade de protagonismo das comunidades. E cada um destes microterritórios já contém alguma comunidade com grau de organização expressivo que garanta que ela seja uma espécie de polo irradiador para as demais comunidades. Entre os microterritórios também há diferenças nas nossas atuações. Por isso, para começar, identificamos aqueles microterritórios em que a base organizacional do FCT e a atuação do OTSS são historicamente mais intensas. São microterritórios em que podemos reverberar e expandir produtos, soluções e processos para os outros microterritórios. Foi por esse motivo que selecionamos esses como microterritórios de entrada do Projeto Povos.

Qual mensagem você deixaria aos parceiros do OTSS tendo em vista os desafios que foram colocados pelo Observatório para os próximos seis meses?
Temos clareza absoluta de que só a nossa ação é insuficiente para transformar o território no sentido pleno do bem viver, com mais equidade, sustentabilidade e autonomia para os povos e comunidades tradicionais. Elementos como o reconhecimento de Paraty e Ilha grande como patrimônio mundial da Unesco deixam isso muito claro: a impossibilidade de trabalhar sozinho nesses processos. Todas as nossas frentes demandam a participação de parceiras e parceiros. Precisamos muito deles e contamos com eles nessa caminhada para fazer com que novos coletivos de vida possam ganhar potência para transformar, de fato, o nosso território.

Texto: Vinícius Carvalho/ Comunicação OTSS

Fotos: Eduardo Napoli/ Comunicação OTSS

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