A região da Bocaina marcou presença no IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) e dá continuidade aos processos de ampliação da prática agroecológica nas comunidades
“A agroecologia permite diariamente que as comunidades sejam beneficiada por uma boa alimentação, feita com consciência e amor”, pontua Ana Cláudia Martins, agricultora e agente do turismo de base comunitária (TBC) no quilombo do Campinho em Paraty (RJ). Ela foi uma das lideranças do Fórum de Comunidades Tradicionais que participou do IV Encontro Nacional de Agroecologia, realizado entre os dias 31 de maio a 3 de junho em Belo Horizonte. Com o tema “Agroecologia e Democracia: unindo campo e cidade”, comunidades tradicionais, técnicos, pesquisadores, coletivos de agroecologia e diversos movimentos sociais estiveram presentes em um evento que evidenciou a força da luta pela soberania alimentar e pela defesa de territórios saudáveis.
O Observatório dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) contribuiu na articulação do evento junto a Fiocruz para que a delegação de Paraty, Angra dos Reis e Ubatuba estivesse junto em Belo Horizonte. Além das agricultoras e agricultores, integrantes e juventudes do jongo do quilombo do Campinho e do Bracuí também participaram.
“A Costa Verde participou montando instalações pedagógicas e anunciando os avanços e conquistas, além de denunciar os conflitos existentes. que impactam na promoção de agroecologia do território”, destaca Fábio Reis, coordenador do Núcleo de Transição Tecnológica que integra a equipe do OTSS. Segundo ele, os representantes também participaram da feira de troca de sementes, momento em que ocorre a partilha da diversidade de sementes, mudas e conhecimentos. “Esses momentos ampliam a autonomia e promovem a diversidade, fortalecendo e livrando os agricultores da lógica do mercado das sementes”, completa.
Resiliência na construção do Bem Viver
“Com a agroecologia vivenciamos um sistema de conexão com a natureza e para nós representa uma forma de luta para que possamos colher muitos bons frutos e manter a nossa terra fértil e viva”, conta Ana Claudia Martins. Segundo ela, essa prática alimenta as gerações e promovem a defesa do território.
“ O IV ENA foi realizado em um período em que a conjuntura política do país é complexa e o recurso para sua realização foram escassos e ver toda a riqueza e a diversidade, demonstram a capacidade de superação e de resiliência desse movimento”, destaca Fábio Reis. O encontro contou com múltiplas contribuições dos diferentes atores que têm a agroecologia em seu dia a dia como estratégia de promoção da vida. “Pudemos ter dimensão da força desses coletivos, que num momento de tanta adversidade, conseguiu realizar um encontro amplo, que mostra as articulações em cada território”, finaliza.
“O campo agroecológico no Brasil é uma referência mundial de organização, de movimento político. No Brasil a agroecologia está muito consolidada enquanto ciência, prática e movimento político, além de ser um paradigma científico que se contrapõe ao agronegócio, afirma André Campos Búrigo, Sanitarista da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fiocruz.
Fiocruz no apoio à agroecologia
Em entrevista exclusiva ao OTSS, André Campos Búrigo discorre sobre a importância da agroecologia para a promoção da saúde e do Bem Viver.
De que forma a Fiocruz acredita na agroecologia como ferramenta de promoção da saúde?
A Fiocruz já tem projetos desenvolvidos no campo da agroecologia há mais de vinte anos. Um exemplo deles é o TerraPia, de alimentação viva na promoção da saúde e do ambiente que completou 21 anos, que parte de uma alimentação agroecológica, sem resíduos de agrotóxicos e do quanto essa alimentação tem promovido a saúde. É um projeto que tem incorporado formações em alimentação viva há muitos anos. A Fiocruz parte de conjunto um campo de pesquisa da instituição que contribui para uma sistematização técnico-científica dos impactos do modelo da agricultura industrial, do modelo que é dependente de agrotóxico, que produz doença, que produz êxodo rural, impacto na saúde do trabalhador, impactos ambientais, a perda de biodiversidade desmatamento, contaminação das águas, impactos na saúde do consumidor. Frente a isso, cada vez mais a Fiocruz tem desenvolvido inúmeros projetos que contribuem com avanços na agroecologia.
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