Em oficina facilitada pelo OTSS, juventudes e lideranças caiçaras, indígenas e quilombolas de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba criaram o primeiro coletivo de comunicação popular do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT).
Defesa do território, turismo de base comunitária, educação diferenciada, saneamento ecológico, agroecologia, cultura, protagonismo das mulheres e tantas outras pautas fazem parte das lutas do Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT). Mas, afinal, como levar mais longe essas bandeiras a partir da autonomia e do protagonismo das próprias comunidades tradicionais?
Facilitada pelo Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) -, uma parceria de dez anos entre a Fiocruz e o FCT -, a primeira oficina de comunicação popular promovida pelo OTSS teve como objetivo apoiar a construção de um plano de comunicação para o FCT a partir do qual todos os conteúdos disseminados pelo Fórum possam ser pautados, produzidos, editados e publicados pelas próprias comunidades tradicionais da Bocaina.
Participaram da atividade, realizada nos dias 10 e 11 de setembro no Ervário Caiçara, no Sertão do Ubatumirim (SP), representantes do Quilombo do Bracuí, Quilombo do Campinho, Comunidade Caiçara do Prumirim, Aldeia Yaka Porã, Aldeia Araponga, Comunidade Caiçara do Sertão do Ubatumirim, Quilombo da Fazenda, Comunidade Caiçara da Praia da Almada e Quilombo da Caçandoca.
“Em muitas coisas, a comunicação ajuda a gente a dar conta das nossas demandas enquanto movimento. Temos muitas agendas e é preciso comunicar para mobilizar, comunicar para informar. Temos que organizar, planejar e ir em frente. E se a gente não coloca a comunicação como uma coisa importante, ela não vai acontecer”, destacou Vagner do Nascimento, quilombola do Campinho da Independência que também integra a coordenação geral do OTSS e do FCT.
Construção coletiva
Juntos, os participantes da oficina identificaram mais de 50 pautas e 18 plataformas para que o Fórum amplie sua comunicação para fora e para dentro de seus territórios tradicionais. As sugestões vão desde mais teatro e rodas de conversas nas comunidades até a produção de folhetos, exposições e vídeo documentários dirigidos ao público internacional. As propostas foram divididas entre aquelas que já podem ser feitas desde agora, sem a necessidade de novos recursos, e aquelas para as quais o Fórum ainda precisará construir projetos para alcançar novos parceiros.
Outro momento importante da oficina foi a definição, pelo coletivo, de valores essenciais para nortear a produção de todo o conteúdo do Fórum de Comunidades Tradicionais. Entre eles, os participantes destacaram a união entre as três etnias, a defesa de seus territórios, a equidade de gênero e o fortalecimento das juventudes e dos mais velhos. Outro consenso foi a necessidade de fazer valer uma “comunicação formativa” capaz de levar ao conhecimento das comunidades, e da sociedade em geral, os direitos já conquistados pelos povos e comunidades tradicionais na legislação brasileira e em tratados internacionais dos quais o Brasil já é signatário.
“Eu acho fundamental essa integração entre os profissionais do OTSS e as juventudes do FCT. Cria-se uma noção de pertencimento, de identidade e de como essa identidade ocupa um lugar de fala específico quando criamos nossas próprias formas de comunicação por meio das demandas do próprio território", comenta Santiago Bernardes, caiçara de Ubatuba e articulador do FCT. "A formação em comunicação vai além das questões técnicas de manejo dos equipamentos, ela passa a noção de pertencimento ao território e vejo o OTSS como um grande impulsionador disso, com uma equipe que está conseguindo fazer essa ponte fundamental para nós comunitários", completa.
Ciclo de formações continuada
Ao fim da oficina, a equipe de comunicação do OTSS apresentou uma nova proposta de formações para o fortalecimento do coletivo. Concebido com a participação de integrantes do Núcleo Jovem do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), o “Ciclo de Formações em Comunicação Popular do OTSS” oferecerá seis módulos entre 2019 e 2020: Audiovisual, Escrita Criativa, Design, Técnicas de Reportagem, Místicas e Jogos para Mobilização e Gestão de Blogs e Redes Sociais. Cada módulo terá duração de dois dias.
“A criação do primeiro grupo de trabalho em comunicação popular do FCT já é, por si só, uma imensa conquista. Porém sabemos que processos verdadeiramente transformadores costumam ser longos e não ocorrem da noite para o dia. É neste lugar, de uma longa caminhada conjunta, que o OTSS reafirma seu compromisso em apoiar o FCT em tudo que aponte para maior autonomia e protagonismo das próprias comunidades tradicionais”, destacou Vinicius Carvalho, coordenador de Comunicação do OTSS.
Ele lembra que o primeiro ciclo de formações em comunicação popular do OTSS, iniciado em maio, teve como objetivo capacitar as juventudes a entender todas as etapas do processo de produção de um vídeo, incluindo os fundamentos de fotografia, roteiro, produção e edição. Por opção dos participantes, o tema escolhido para o mini-documentário de conclusão do curso foi a situação da educação a partir da realidade das comunidades caiçaras da Praia do Sono, do Pouso da Cajaíba e do Saco do Mamanguá. A produção, em finalização, terá sua estreia em audiência pública convocada pela Assembleia Legislativa do RJ para debater a situação da educação caiçara na costa Verde.
“Eu sinto que pudemos concretizar o início de um processo fundamental e inédito de comunicação junto ao Fórum de Comunidades Tradicionais, gerando autonomia para que toquem ainda mais a própria comunicação”, destacou também Vanessa Cancian Silva, comunicadora do OTSS que colabora, desde 2016, com a comunicação popular do FCT. “Quando as próprias comunidades escrevem, postam, falam e mobilizam por meio das ferramentas de comunicação, os lugares de fala são respeitados e podemos ver na prática o protagonismo acontecer”, completa.
“Essa oficina, para mim, pode mostrar o potencial individual e coletivo de cada um no grupo. Pude estar num lugar onde meu espaço de fala é garantido, onde cuidado e carinho são distribuídos, desde a escolha do lugar, o alimento, até a troca riquíssima de conhecimento, com a juventude, dentro de construções coletivas que validam toda forma de expressão”, concluiu Bethânia Souza, quilombola da Fazenda que participou, pela primeira vez, de uma atividade junto ao FCT e ao OTSS.
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