A lutas dos povos guarani pela educação escolar diferenciada no estado do Rio de Janeiro conquista feito histórico
Reescrever sua própria história de luta, rasgar os livros que narram a história indígena na perspectiva colonizadora e sem protagonismo. Recriar a imagem dos povos indígenas como seres mitológicos que fazem parte do passado. Todos esses fatores fazem parte da luta diária dos povos indígenas em busca de consolidar a garantia de direitos básicos assim como a educação. Nesse contexto, uma conquista dos povos guarani de Angra dos Reis e Paraty, foi a implementação oficial do magistério indígena.
Aconteceu no último sábado, 14 de julho, no Colégio Indígena Estadual “Karai Kueri Renda”
localizado na aldeia Sapukai em Angra dos Reis a aula inaugural do Magistério indígena. O momento histórico que marca a luta dos povos indígenas por uma educação que seja construída com base no seu nhandereko (modo de ser).
“Para nós indígenas do povo guarani esse avanço da educação dentro da aldeia é importante porque hoje estamos vendo que o estudo faz bem”, pontua Júlio Garcia Karai Xiju, liderança da aldeia Sapukai que integra a Comissão Guarani Yvurupá e o Fórum de Comunidades Tradicionais. “Hoje temos muita dificuldade em conseguir trabalho e o ensino médio e o magistério indígena traz para nós uma oportunidade de adquirir conhecimentos do mundo dos juruá”
Luta histórica da educação indígena
“Essa luta é uma luta de muitos anos e foi por meio de uma ação judicial do Ministério Público Federal(MPF) junto a equipe de justiça socioambiental do FCT na área de direito indígena que nós voltamos a discutir o magistério indígena dentro da aldeia e conseguimos ter esse avanço”, contextualiza Karai Xiju. Segundo ele, dentro desse assunto, o fundamental é saber que a partir de agora poderá ser possível formar os professores indígenas para trabalhar nas suas aldeias.
“A inauguração faz parte da solução de uma demanda histórica que foi reprimida durante muitos anos e que agora vai permitir que os jovens tenham oportunidade de dar prosseguimento às suas escolaridades”, ressalta Domingos Nobre, coordenador do Instituto de Educação de Angra dos Reis (IEAR-UFF). De acordo com ele, que acompanha o processo há 23 anos o curso será realizado no formato da pedagogia da alternância, sendo oferecido parte na aldeia no colégio indígena e parte num colégio público na cidade de Angra dos Reis.
“Esse processo vai permitir que haja habilitação dos professores guarani para lecionarem em suas próprias escolas. Vários professores que dão aula nas aldeias guarani estão sem a habilitação e isso vai permitir que professores em exercício tenham formação continuada. Além disso, vai liberar o fluxo da escolaridade para jovens que queiram ingressar na universidade.
A construção do magistério indígena contou com a coordenação da Universidade Federal Fluminense (UFF), e apoio da Secretaria Estadual de educação, do OTSS e do Coletivo de Educação Diferenciada.
Texto: Comunicação Popular FCT - Vanessa Cancian
Fotos: Registro de whatsapp
Editoração Eletrônica: Comunicação Popular FCT - Vanessa Cancian
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