Formação é resultado do Projeto Redes, uma condicionante do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.
O Curso de Turismo de Base Comunitária (TBC) do Projeto Redes concluiu suas atividades com uma cerimônia de formatura no Quilombo da Fazenda, em Ubatuba (SP). Esse curso, diferenciado por ser conduzido por comunitários para comunitários, é um dos oito cursos com parceiros da Rede de Formação Socioambiental do Projeto Redes e foi realizado em parceria com a Rede Nhandereko de TBC do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) e a Incubadora de Tecnologias Sociais do OTSS.
Além de conteúdos específicos sobre Turismo de Base Comunitária, o curso ofereceu um módulo sobre Licenciamento Ambiental. O objetivo foi integrar formação humana, teórica, técnica e prática, mitigando impactos e conflitos socioambientais enfrentados pelas comunidades tradicionais e pesqueiras.
Daniele Elias, coordenadora da Rede Nhandereko, enfatizou a importância do protagonismo comunitário: "A Rede Nhandereko de TBC do FCT vem para contrapor a lógica do turismo de massa, que desapropria os territórios e traz desunião e competição. A gente deseja um território saudável que prospere com o nosso modo de ser e viver, com a agricultura, pesca artesanal, cultura, artesanato e com a nossa história. Não existe TBC se a gente não falar do nosso fundamento, dos nossos mais velhos e mais velhas. O TBC sem a base não existe, ele é uma forma diferenciada de organizar o turismo nos territórios. Não abrimos mão do protagonismo das comunidades do começo ao fim, se não, não é TBC", afirmou.
Com uma carga horária de 100 horas, o curso seguiu a metodologia da pedagogia da alternância, que alterna e integra vivências educativas distintas. Este processo foi organizado em dois Tempos Escola e um Tempo Comunidade, que inclui uma Partilha e dois encontros dos Núcleos de Acompanhamento.
Monika Richter, professora da UFF/IEAR e Coordenadora Pedagógica do curso, explicou o cuidadoso processo seletivo: "Tivemos cerca de 170 inscritos para 31 vagas. Foi um processo seletivo bastante difícil. Uma das premissas era de que o cursista fosse comunitário e quem já tinha algum engajamento com alguma atividade de TBC. Pensar nas comunidades que ainda não tinham sido atendidas pelos cursos ou que ainda não têm o seu TBC consolidado. Esses foram alguns dos critérios pensados para esse processo seletivo", explicou.
O primeiro Tempo Escola aconteceu na comunidade caiçara do Saco do Céu, na Ilha Grande, Angra dos Reis, com um roteiro de TBC de mariscagem, conduzido pelas mulheres da comunidade. As atividades seguiram em Freguesia de Santana e Quilombo do Bracuí, com contação de histórias e roteiros de TBC de denúncia, que são roteiros que mostram as realidades e os conflitos nas comunidades visando a luta pela defesa do território. A jornada continuou pela Aldeia Sapukai e teve uma partilha em Castelhanos, em Ilhabela (SP), incluindo oficinas de peixe seco, cocada, brincos, barreado e canoa.
O segundo Tempo Escola iniciou na comunidade de São Gonçalo, com o roteiro "Navegando na História", um roteiro náutico. O curso foi concluído no Quilombo da Fazenda, em Ubatuba, com contação de histórias por Laura Braga.
No módulo de licenciamento ambiental, discutiu-se organização, gestão e governança comunitária, precificação, elaboração de roteiros, políticas públicas de TBC e parcerias público-comunitárias.
Júlia Martins, educadora do Projeto Redes, destacou a riqueza da troca de experiências: "Houve muita troca de experiências, compartilhamento entre comunitários que já têm TBC em suas comunidades e aqueles que desejam iniciar essa prática para fortalecer a defesa do território. Foi um curso de muita energia, troca rica entre comunidades, com representantes de 4 quilombos, 2 aldeias indígenas e 18 comunidades caiçaras", celebrou.
Sobre o Projeto Redes
O Projeto Redes (novo nome do PEA Costa Verde) é uma condicionante imposta pelo licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, da atividade de exploração de petróleo e gás natural da Petrobras na Bacia de Santos, sendo realizado no litoral norte de São Paulo e no litoral sul do Rio de Janeiro. A fase 2 é realizada em colaboração da Fiotec/Fiocruz por meio do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina, do Fórum de Comunidades Tradicionais, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
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Texto: Deborah Gérbera
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