Com novos protocolos de segurança exigidos pelo contexto da pandemia, equipes de campo do OTSS iniciaram caracterização de mais 20 territórios caiçaras, indígenas e quilombolas da Bocaina
Por meio de processos de cartografia social, o Projeto Povos tem como principal objetivo consolidar informações que sirvam de ferramenta para que os povos tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba possam garantir seus direitos e territórios diante de impactos gerados por grandes empreendimentos. Mas como, afinal, avançar em processos de mobilização e cartografia social em meio a um contexto de pandemia?
"Devido ao cenário pandêmico, redesenhamos o processo metodológico para nos adequar aos protocolos sanitários da Fiocruz, respeitando e acolhendo as necessidades dos territórios. Cada oficina está sendo desenhada e adaptada para cada comunidade, de modo que possamos manter o processo participativo de construção coletiva e garantindo a voz de todxs", destaca Fabiana Miranda, coordenadora de gestão territorial do OTSS.
Para isso, segundo ela, a equipe optou por ampliar o número de oficinas e reduzir o número de participantes em cada atividade de caracterização. Além disso, toda a mobilização passou a ser feita por whatsapp e telefone. Nos contatos são informados os cuidados necessários para evitar a doença e todas as reuniões e oficinas são realizadas com distanciamento social, uso de máscaras e lanches servidos em embalagens individuais.
"Apesar das dificuldades que tivemos por conta da pandemia, sentimos uma grande aproximação com as comunidades devido ao momento de desafios que o contexto trouxe. Sentimos que trabalhar com grupos pequenos nos faz construir relações de maior intimidade entre os grupos e isso facilita os processos", avalia Luisa Villas Boas, jovem liderança caiçara de Ubatuba que integra a equipe da campo do Projeto Povos.
Cartografia social na Pandemia
Atualmente, o desafio do Projeto Povos é caracterizar três novos microterritórios: MT Trindade, que reúne Trindade, Praia do Sono e Ponta Negra; MT Norte de Ubatuba 2, que reúne Puruba, Prumirim, Felix, Itamambuca, Praia Vermelha do Norte, Barra Seca, aldeia Boa Vista e aldeia Rio Bonito; e MT Norte de Paraty, que reúne uma terra indígena pataxó, a aldeia guarani nhandeva do Rio Pequeno e as comunidades caiçaras de Tarituba, São Gonçalo, Ilha do Pelado, Ilha do Cedro, Praia Grande e Ilha do Araújo.
“De alguns anos para cá, começamos a trabalhar com uma escala territorial que a gente não trabalhava, do ponto de vista da gestão e governança, que é a ideia de microterritório. Tratam-se de espaços definidos por uma série de núcleos de sentido que trazem significados materiais e simbólicos que sempre ocorreram nesses territórios, que têm a ver com as práticas históricas das comunidades que os habitam e que constituem uma identidade cultural muito própria desse espaço vivido. Embora essa abordagem não seja em si uma novidade, é uma novidade fazer isso do lugar onde fazemos, com a participação das comunidades”, explica Edmundo Gallo, pesquisador titular da Fiocruz e coordenador geral do OTSS.
"Diante de cenários que geram impactos sociais, ambientais e econômicos, como a atual crise sanitária mundial, ou um desastre ou crime ambiental da cadeia de petróleo e gás, por exemplo, a caracterização traz subsídios tanto de fortalecimento interno das comunidades que se reconhecem e valorizam sua identidade, seus modos e suas redes de apoio e solidariedade, como externamente visibilizando de modo sistematizado e organizado o plano de ação pelos seus direitos", completa Fabiana Miranda.
"Nós temos sempre falado sobre os cuidados com a saúde, não só em relação ao Covid, mas também a outras doenças transmissíveis. O Povos tem um grande potencial mobilizador e, mesmo em comunidades mais distantes do FCT, tem se mostrado ferramenta importante de organização comunitária. Depois de encerrados os primeiros MTs, aprendemos bastantes e temos corrigido os rumos nos novos MTs", pontua Cristiano Lafetá, coordenador de campo do Projeto Povos.
"Há aprendizados a serem levados aos territórios e há muito mais para que possamos aprender com eles, principalmente, a resistência cultural e histórica, apesar de todo um contexto histórico de opressão a que são submetidos há décadas, a vontade de permanecerem dentro de suas terras legitimamente ocupadas, mas permanecer com direitos e protagonismo. A busca de compreensão de situações e criação de formas de luta por seus direitos, que o projeto contribui para construir, a união ainda existente de muitas famílias tradicionais, apesar dos conflitos a que foram expostas e incitadas pelo capital espoliador de suas terras", conclui Santiago Bernardes, pesquisador do OTS e articulador do FCT em Ubatuba.
Para saber mais sobre o Projeto Povos, clique aqui: https://www.otss.org.br/post/projetopovosrevelarasituacaodecomunidadestradicionais
Para saber mais sobre a metodologia de cartografia social desenvolvida pelo Projeto Povos, clique aqui: https://vimeo.com/392722248
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