Paraty foi palco de um encontro que reuniu lideranças de territórios tradicionais e pesquisadores do Brasil e do Canadá para discutir o acesso à água potável, saneamento, educação hídrica e promoção da vida. Mediado por Tito Cals, pesquisador do OTSS, o encontro teve como objetivo principal a troca de experiências e a busca por soluções para os desafios relacionados à água.
Realizada no dia 11 de setembro dentro da programação do Encontro Internacional de Territórios e Saberes (EITS), a conversa teve início com Tito destacando a diversidade dos biomas, a importância da troca de experiências e os desafios para uma maior igualdade no acesso à água. A metodologia da roda de conversa permitiu que todos os participantes se expressassem livremente, trazendo reflexões em música, poesia e até mesmo um vídeo dos Profetas da Chuva.
A primeira pergunta feita pelo mediador foi: "De onde você vem e o que significa a água para você?" As respostas destacaram a água como um elemento essencial à saúde e à vida, independentemente do território. Julio Karai, da Aldeia Sapucai, iniciou sua fala pedindo que todos tomassem um gole de água, estimulando a sensação de presença e a importância da água em nossas vidas. "A água é poder, autonomia, saúde e cultura", afirmou Julio.
Adeodata dos Anjos, dos Profetas da Chuva, cantou a música "Mandacaru quando fulora na seca", representando a conexão das culturas tradicionais com a natureza. As reflexões sobre a privatização da água e a escassez como interesse do capital foram temas recorrentes. Renata Furigo, do ONDAS, destacou a realidade da privatização da água e a vulnerabilidade das comunidades. "Somos contrários a toda e qualquer forma de privatização do saneamento", afirmou Renata.
As soluções para os desafios relacionados à água foram discutidas com ênfase na necessidade de que elas nasçam no território, para o território e com o território. Silvio Nei, do Quilombo do Campinho da Independência, destacou a importância da agroecologia e da agrofloresta como formas de "plantar a água". "Plantemos saúde! Plantemos água!", afirmou Alexandre Pessoa, da Fiocruz.
Juliana Bavuzo, da Articulação do Semiárido Brasileiro, ressaltou que a mobilização das comunidades vem mudando o cenário de concentração de água nas grandes propriedades. "A articulação do semiárido vem a partir do conhecimento que todo o povo já tem, temos ciclos de seca, período de chuva e vamos reproduzir soluções nessas condições", disse Juliana.
A educação foi apontada como um caminho essencial para a solução dos problemas relacionados à água. Moussa Mbodji, da Universidade de Dakar, destacou a importância da representatividade e da educação ambiental. "Precisamos conhecer a tecnologia com carinho", afirmou Moussa. A descentralização da informação e a educação com arte foram sugeridas como formas de tornar o conhecimento mais acessível.
Os desafios enfrentados pelas comunidades tradicionais foram amplamente discutidos. Silvio Nei questionou: "Gostaria de entender por que eles não entendem? Se não formos nós a lutar, quem fará isso pelas comunidades tradicionais?" A falta de políticas públicas e a necessidade de planejamento territorial foram temas recorrentes.
As recomendações para a COP 30 incluíram a institucionalização do Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR), a implementação de projetos de tetos solares e a transição energética. "Precisamos levar debates para dentro de nossos estados e trazer parceiros para buscar soluções", afirmou Julio Karay.
O encontro no Espaço Quilombola foi um marco na discussão sobre o acesso à água potável, saneamento e educação hídrica. As falas dos participantes destacaram a importância da união entre saberes científicos e tradicionais, promovendo uma atuação mais eficaz e inclusiva na defesa dos territórios tradicionais. "Só sabe para onde vai quem sabe de onde vem", concluiu Neidinha Surui, reforçando a necessidade de planejar o território com base no conhecimento ancestral.
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