O seminário “Uma Outra História de Paraty” reuniu lideranças, educadoras e educadores na construção de um olhar descolonizado sobre a história do município e a luta pela educação diferenciada nas escolas.
Existe uma história que não está nos livros e tampouco ensinada nas escolas. Essa história é vivida por povos e comunidades tradicionais de diversas regiões do Brasil. Resistência, lutas por terra, resiliência, fortalecimento dos seus modos de vida, aprendizado, protagonismo, permanência e muitas outras diversidades compõem a história dos povos indígenas, caiçaras e quilombolas que integram o Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT).
Nesse contexto de ressignificação nasceu a proposta do seminário “Uma Outra História de Paraty”, realizado no dia 26 de outubro de 2018, na Escola Municipal Pequenina Calixto. Organizado pelo Coletivo de Apoio à Educação Diferenciada do Fórum de Comunidades Tradicionais Angra/Paraty/Ubatuba (FCT), por meio do Programa de Apoio à Formação de Educadores - do Instituto Oju Moran, o seminário convidou especialistas e comunitários para contar a história silenciada na historiografia oficial: história das mulheres,dos indígenas, do povo negro, história da BR-101 e suas implicações para as comunidades da região.
“A ideia do seminário partiu um edital que escrevemos para o Instituto Oju Moran com a proposta de escrevermos um livro contando a história das comunidades caiçaras da costeira”, conta Iaci Sagnori, professora das escolas das comunidades caiçaras da praia do Sono e do Pouso da Cajaíba. Segundo ela, o evento representou também uma formação para nós professores e para as comunidades escolares. “Falamos sobre a história daqueles que sofreram as consequências da colonização, falamos da história contra hegemônica, que integra o trabalho desenvolvido nas comunidades”, completa.
“O seminário contou com conteúdos incríveis de debate, achei fundamental falarmos para professoras e professores, porque são eles que estão em sala de aula. Eu acho até que poderia ter muito mais gente, foi um seminário que era para todo mundo ouvir”, pontua Ronaldo dos Santos, quilombola do Campinho que integra o Coletivo de Educação Diferenciada e que contou um pouco da história do povo negro e quilombola no Brasil e em Paraty.
“Projetos como esse contribuem muito para a educação no município. Nós estamos levantando dados das populações que foram silenciadas, trazendo um olhar para pensar em como pode ser, como se constrói a resistência, um território mais justo, as possibilidades de reconquistar o que foi deixado para trás, e como chegamos até aqui e quais os nossos projetos de futuro”, diz Iaci.
História da região que se repete na história do Brasil
“Cada história contada, cada narrativa monta um quebra-cabeça com diferentes perspectivas de uma mesma história, que é a história do Brasil, replicada neste pequeno mundo, isso ficou evidente no seminário”, conta Ronaldo. Ele acompanha a luta pela educação diferenciada do FCT e acredita que foi um passo importante entre tantos que têm sido dados, no sentido de fortalecer as narrativas nas perspetivas dos povos e comunidades tradicionais.”
Modelo de educação diferenciada para construir futuros
“O trabalho que fazemos nas escolas pode ser modelo em outros processos escolares, para criar experiências de diálogo com as comunidades. Atuamos de forma a repensar o passado, analisando os caminhos percorridos, entender melhor quais são os conflitos que vivemos na atualidade e pensar as perspectivas de futuro”, conta Iaci Sagnori. Segundo ela, tanto para a comunidade escolar e a educação do município como um todo, o objetivo é criar espaços educativos de forma diferenciada em que seja possível construir um processo de análise e de reflexão.
“Eu acredito que Paraty está dando passos importantes na consolidação da diversidade dentro da educação no que diz respeito à diversidade étnica, na formação da cultura paratiense e o seminário revela isso”, salienta Ronaldo dos Santos. A liderança enaltece a importância dessa abertura do poder público no sentido de articular os sujeitos que atuam nessa área. “Nós aprovamos isso no Plano Municipal de Educação, há 3 anos, e isso começa agora a ter resposta do ponto de vista concreto da gestão pública”, finaliza.
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